devolvam a cidade: uma pesquisa sobre a luta por moradia

Adivinhem: hora de falar sobre mais uma pesquisa. O Google Acadêmico tem sido um verdadeiro salvador da pátria ultimamente, temos que admitir. Acontece que o tema “ocupação de espaços públicos urbanos” atrelado a São Paulo pode eventualmente (e com eventualmente queremos dizer depois de uma procura intensa) render em vários artigos interessantes, e que jeito melhor temos de compartilhar o processo de estudo aqui, com vocês? Segue a nossa análise e nossas conclusões sobre o artigo “O direito a moradia”, de Janaina Aliano Bloch.

Tivemos a sorte de nos deparar com esse estudo acadêmico, que analisa a questão da luta por moradia em São Paulo, um desdobramento de altíssima relevância dentro de nosso tema, que precisa, em nossa opinião, ser debatido e analisado no atual contexto de São Paulo, por representar uma parcela considerável de cidadãos mobilizados com objetivos de luta relacionados ao direito à moradia.

Um dos aspectos mais interessantes é esse mesmo conceito sendo considerado como equivalente à ideia da luta pelo direito à cidade, ao longo do texto. Faz muito sentido a relação entre essa ideia e o nosso tema: igualar cidade à moradia. Pode muitas vezes nos soar estranho. Por que a cidade é sempre vista como algo tão distante daquilo que chamamos de lar? E será que tem que ser assim? Já nos aproveitando do vídeo argumento aqui recentemente postado, é importante que nos questionemos quanto à isso. É de nosso costume relacionarmos o conceito de casa como o meio privado no qual permanecemos, fora de nossa rota de passagem. O meio urbano é sempre muito distanciado de nossa definição de moradia, e são movimentos como os que se apropriam de espaços urbanos ociosos, que pretendem, dentre muitas outras coisas, mudar essa separação.

Mesmo que o artigo dê foco ao aspecto da ocupação de edifícios privados e públicos ociosos no centro da cidade, os objetivos por trás podem ser atrelados à movimentos de desdobramentos e contextos diferentes, como aqueles que procuram transformar outros tipos de espaços urbanos em locais que pertençam, antes de tudo, aos seus ocupantes.

A questão dos movimentos do centro para a ocupação de prédios, especificamente (como o MMC, o MST, o FLM, o MMTP, entre outros), ressalta ainda mais a aproximação a ser feita entre os conceitos de espaço urbano e moradia (ideia que pretendemos retratar em nossa pesquisa e em nosso documentário). É interessante, assim, analisar o contexto que culminou na situação atual, exemplificada por alguns lugares que visitamos no estudo do meio.

No contexto de 1980 e 1990, a tendência de perda populacional no centro foi potencializada pela estruturação de pólos de valorização imobiliária em outras áreas na cidade (como a Avenida Paulista, a Faria Lima, Marginal Pinheiros, entre outros). Tal fenômeno foi inevitavelmente companhado por um processo de desvalorização do centro, que teve como consequência a ociosidade imobiliária na região. Assim, diante desse abandono, movimentos de moradia compostos principalmente pela população encortiçada e sem teto, que já lutavam anteriormente por moradia digna na área, passaram a ocupar esses imóveis.

Esse tipo de fenômeno evidencia a contradição existente na cidade: imóveis, terrenos e unidades habitacionais em uma das áreas mais valorizadas em São Paulo, sem nenhuma destinação, sem nenhuma função social. O IBGE de 2000 mostrou que havia, na época, cerca de 420 mil imóveis residenciais vazios na cidade, uma grande parte no centro.

Por fim, também é importante notar o que esse tipo de movimento representa, em um âmbito um pouco mais amplo. Não é uma luta apenas para o combate da segregação espacial, mas também uma reivindicação para o fim da exclusão social e política. O tratamento recebido por organizações populares como essas, que visam lutar por um direito teoricamente acessível a todos, por ser perceptivelmente diferenciado e agressivo por parte de uma parcela considerável das autoridades, pode servir como um exemplo da desigualdade que se estende não pelo centro, não por São Paulo, mas pelo Brasil.

Recomendamos aos interessados no tema que circulem, como nós fizemos, por sites que tornam acessíveis artigos como esse. O tema poderia render blogs e mais blogs, e por isso propusemos uma reflexão um pouco menos profunda do que gostaríamos, mas que ainda assim possibilita a análise de um desdobramento importante de nosso tema, de vários ângulos. Deixamos aqui o link para o download do artigo e o documentário Leva, já antes citado aqui no blog, que procura narrar a luta por moradia no centro (mais especificamente no prédio Mauá, visitado por uma de nós – a Fernanda – durante os 3 dias de estudo do meio), sua dinâmica e a intervenção das autoridades em seu curso.

– Beta, Mari, Ma e Fê

Festa = Ocupação

Sim, festa. Sim, ocupação. Eles podem ser a mesma coisa. Entre pesquisas mil nesse domingo chuvoso, me deparei com alguns movimentos culturais incríveis que promovem um contraponto ao uso apenas prático de espaços públicos na cidade de São Paulo. Entre eles, ocupações para centros culturais, eventos voltados para a diversão coletiva e movimentos como este: festas na rua.
Partindo de diversos coletivos paulistanos, fazer eventos de música, atrações e dança nas ruas de São Paulo tornou-se um modo de expressão não só artística, mas política: questionar o uso de espaços públicos, criticar a preocupação exclusiva com o lucro e a distância entre os cidadãos e os cenários urbanos. Grupos como o Voodohop, Free Beats, Capslock e Mamba Negra promovem eventos (em sua maioria gratuítos) que visam integrar pessoas das mais diversas camadas sociais, em espaços que lhes pertençam, por meio de festas. É disso que trata o documentário “O QUE É NOSSO – Reclaiming the jungle”. E o que melhor do que um bom e velho documentário para abordar um desdobramento mais do que relevante do nosso tema, não é mesmo?
Deixo aqui para vocês, nesse domingo cinza e frio, um documentário cheio de cor, música e alternativas incríveis para ocuparmos os espaços públicos, provando nossa posição como parte deles.

– Fê